15 outubro 2011

Afinal…

É preciso termos alguém nosso até à última gota de sangue?
Continua o medo de partir o que ainda não está inteiro.
É tão fácil partir coisas e pessoas.
Como as coisas, basta largar.
Existe uma força de gravidade específica para as almas que, desamparadas, se estilhaçam.

Partir é fácil.
Depois do coração ceder, tudo se desfaz.
Não há como agarrar pedaços de pele e mantê-los juntos.
Não temos mãos para tanto, o pó passa nos intervalos dos dedos.
Sai o sangue, suja a cama, invade o olhar.
Chora, se conseguires. Dizem que faz bem mas não é tão fácil como parece.

Não cries expectativas.
Vive só o agora e não penses no que vem, porque pode não vir nada.
E depois, seguem-se mais estilhaços e dor e o sangue que se espalha por ti e à tua volta.
Não queres que te processem por contaminares a rua com o que não consegues guardar, pois não?

Olha, tens uma fenda no braço. Não, não é nesse.
É no esquerdo… mais acima, junto ao ombro.
Cuidado para não começares a perder membros.
Há quem diga que o processo é doloroso e irreversível.
Começa devagar, sem dares por nada e quando finalmente percebes já é tarde.
Espalha-se pelo corpo todo e ataca os orgãos vitais, como no amor.
Definhas e ninguém percebe porquê. Nem tu.
Acordas 5, 6, 7 vezes durante a noite apenas porque sentes que falta o que ainda não conseguiste identificar.
Um destino.  
O teu sangue não tem para onde correr.

Não dás voltas na cama.
Ao invés do cliché ficas muito quieto, na esperança que o tempo passe sem te atropelar e te mandar para as urgências.
Na esperança que toda a dor se esqueça que existes e vá fumar um cigarro.
Que difícil é respirar, quando nos sentimos como um peixe fora de água.

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