09 dezembro 2011

A(r) dor.


[Fotografia: Sandra Afonso. 9 Dezembro 2011]

Amor Dor é não ter defesas
é ter o coração exposto,
como nas cirurgias
e despejarem ácido, cuidadosamente,
quando temos o peito aberto.

Dor é ser o morto em exposição no velório
[vejam, olhem bem, estou composto,
com bom aspecto, asseado, bem vestido,
apenas ligeiramente pálido, a morte é um pormenor]

Dor é partir. Virar costas.
Ir no sentido oposto ao que queremos
e não ceder à tentação de olhar para trás.

Amor é conseguirmos voar
Dor é, de repente, cairmos em nós
sem ninguém que nos ampare na queda.

Preciso de um analgésico, por favor. 
Daqueles potentes.
Que me permitam tão só continuar a respirar.
Mas sem prescrição, que não tenho paciência para a caligrafia mal desenhada do receituário.
Hoje.

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